16 de novembro de 2008

Ética no jornalismo

Ética no jornalismo é sempre um tema a ser revisto, para toda a vida. Envolve amadurecimento profissional e também emocional para ser discutido, porque diz respeito a práticas de colegas que são amigos do dia-a-dia. Diz respeito às nossas próprias práticas. E como é difícil apontar e admitir os nossos erros, principalmente em público. Mas é necessário, pela qualidade da informação jornalística (que necessariamente é de interesse público), pela dignidade da nossa profissão e porque não estamos acima do bem e do mal. Sexta-feira à noite foi um momento bom para discutirmos, jornalistas de redação e de assessorias, as muitas nuances e os muitos conflitos éticos que vivenciamos na nossa profissão. O Sindjor promoveu uma palestra sobre este tema ainda meio tabu, em Macapá, com apoio da Secretaria de Comunicação do Governo do Estado. A convidada foi a jornalista Simone Romero, repórter do jornal O Liberal(Belém) e professora do curso de Comunicação da UFPA. Tem experiência nos dois lados do balcão: já foi reporter em assessoria, ja chefiu equipe em assessoria, é repórter de impresso há mais de 10 anos. Pelo que conheço da sua atuação, do seu relacionamento com as fontes, com os patrões, com os colegas, considero-a apta a abordar este tema. Por isso estive lá, foi legal revê-la de uma forma como nunca tinha visto, palestrando. Verbalizou bem, citou exemplos concretos e motivou a participação da platéia, que só não perguntou mais por falta de tempo.

Listei alguns tópicos destacados pela palestrante, os quais considero fundamentais para dar uma sacudida na reflexão sobre a ética no jornalismo.

1- Pensar a prática profissional não é comum entre os jornalistas. Não temos tempo para discutir nosso trabalho.

2- Debate sobre ética é difícil, um tema árido. Temos dificuldade em apontar nossos erros.

3- Liberdade de informação só se justifica com informação de qualidade e usando meios lícitos para obter a informação.

4- Não existe bom jornalismo sem ética. A boa informação é obtida de forma legal.

5- Jornalista que não defende a democracia é fora de lógica. Não pode defender a ditadura.

6- Definição de Eugênio Bucci, ex-diretor da Radiobrás: "A notícia é informação de interesse público. Isso é básico e fundamental".

7- Aquilo que o cidadão tem o direito de saber é informação de interesse público.

8- Off não é reportagem, é só o começo de uma boa reportagem. Ou não.

9- A profissão de jornalista é cada vez mais empurrada para o ralo. Os patrões não têm muito interesse em credibilidade.

10- A razão do trabalho do jornalista é o leitor/ouvinte/telespectador, e não o patrão.

11- A gente não pergunta ao leitor o que ele quer receber. Escrevemos o que achamos que ele quer receber.

12- Há quem diga: "Se eu não cumprir as ordens do patrão, ele me demite". A coisa não é tão rasteira assim e ninguém pode achar que vai ficar rico sendo jornalista.

13- O jornalista pode sim recusar pautas que afetem sua credibilidade. Isso o fará ser mais respeitado por qualquer patrão.

14- O bom jornalista é valorizado sim, mas é preciso construir um caminho ético.

15- O caso Isabela Nardoni foi transformado pelas TVs em uma novela. Muitas outras crianças também sofrem violência doméstica, morrem de fome....e não ganham destaque. A questão é que casos sórdidos fazem os jornalistas quererem aparecer dentro de suas emissoras.

16- O caso Eloá também virou uma novela. E como toda novela era preciso um final feliz, e foi colocado nesse caso a doação dos órgãos da jovem.

17- O novo Código de Ética dos Jornalistas foi publicado este ano, após várias plenárias regionais. Acesso no site www.fenaj.org.br

18- O jornalista não deve se autocensurar.

19- Qual o interesse público de um político ter uma amante? Salvo no caso que ele pague pensão alimentícia com recursos públicos.

20- Há diferença no tratamento do jornalismo policial, para as várias classes sociais. O pobre é meliante e culpado. O rico é suspeito.

21- Jornalista não é policial, não tem prerrogativa legal nem treinamento para atuar em negociações em casos de assaltos com reféns.

22- A Justiça não aceita como provas, escutas não autorizadas. Então, o jornalista não pode utilizar escutas não autorizadas.

23- Assessor de Imprensa não pode nem deve assumir erros e falhas do assessorado. Assessor não é porta-voz, quem tem de se explicar publicamente é o assessorado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pois é... palestra sobre ética no jornalismo promovida pelo Sindjor com apoio da assessoria do GEA. Acho que as duas instâncias deveriam fazer profunda reflexão sobre esse tema. Senão é como dizer "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".