Ética no jornalismo é sempre um tema a ser revisto, para toda a vida. Envolve amadurecimento profissional e também emocional para ser discutido, porque diz respeito a práticas de colegas que são amigos do dia-a-dia. Diz respeito às nossas próprias práticas. E como é difícil apontar e admitir os nossos erros, principalmente em público. Mas é necessário, pela qualidade da informação jornalística (que necessariamente é de interesse público), pela dignidade da nossa profissão e porque não estamos acima do bem e do mal. Sexta-feira à noite foi um momento bom para discutirmos, jornalistas de redação e de assessorias, as muitas nuances e os muitos conflitos éticos que vivenciamos na nossa profissão. O Sindjor promoveu uma palestra sobre este tema ainda meio tabu, em Macapá, com apoio da Secretaria de Comunicação do Governo do Estado. A convidada foi a jornalista Simone Romero, repórter do jornal O Liberal(Belém) e professora do curso de Comunicação da UFPA. Tem experiência nos dois lados do balcão: já foi reporter em assessoria, ja chefiu equipe em assessoria, é repórter de impresso há mais de 10 anos. Pelo que conheço da sua atuação, do seu relacionamento com as fontes, com os patrões, com os colegas, considero-a apta a abordar este tema. Por isso estive lá, foi legal revê-la de uma forma como nunca tinha visto, palestrando. Verbalizou bem, citou exemplos concretos e motivou a participação da platéia, que só não perguntou mais por falta de tempo.
Listei alguns tópicos destacados pela palestrante, os quais considero fundamentais para dar uma sacudida na reflexão sobre a ética no jornalismo.
1- Pensar a prática profissional não é comum entre os jornalistas. Não temos tempo para discutir nosso trabalho.
2- Debate sobre ética é difícil, um tema árido. Temos dificuldade em apontar nossos erros.
3- Liberdade de informação só se justifica com informação de qualidade e usando meios lícitos para obter a informação.
4- Não existe bom jornalismo sem ética. A boa informação é obtida de forma legal.
5- Jornalista que não defende a democracia é fora de lógica. Não pode defender a ditadura.
6- Definição de Eugênio Bucci, ex-diretor da Radiobrás: "A notícia é informação de interesse público. Isso é básico e fundamental".
7- Aquilo que o cidadão tem o direito de saber é informação de interesse público.
8- Off não é reportagem, é só o começo de uma boa reportagem. Ou não.
9- A profissão de jornalista é cada vez mais empurrada para o ralo. Os patrões não têm muito interesse em credibilidade.
10- A razão do trabalho do jornalista é o leitor/ouvinte/telespectador, e não o patrão.
11- A gente não pergunta ao leitor o que ele quer receber. Escrevemos o que achamos que ele quer receber.
12- Há quem diga: "Se eu não cumprir as ordens do patrão, ele me demite". A coisa não é tão rasteira assim e ninguém pode achar que vai ficar rico sendo jornalista.
13- O jornalista pode sim recusar pautas que afetem sua credibilidade. Isso o fará ser mais respeitado por qualquer patrão.
14- O bom jornalista é valorizado sim, mas é preciso construir um caminho ético.
15- O caso Isabela Nardoni foi transformado pelas TVs em uma novela. Muitas outras crianças também sofrem violência doméstica, morrem de fome....e não ganham destaque. A questão é que casos sórdidos fazem os jornalistas quererem aparecer dentro de suas emissoras.
16- O caso Eloá também virou uma novela. E como toda novela era preciso um final feliz, e foi colocado nesse caso a doação dos órgãos da jovem.
17- O novo Código de Ética dos Jornalistas foi publicado este ano, após várias plenárias regionais. Acesso no site www.fenaj.org.br
18- O jornalista não deve se autocensurar.
19- Qual o interesse público de um político ter uma amante? Salvo no caso que ele pague pensão alimentícia com recursos públicos.
20- Há diferença no tratamento do jornalismo policial, para as várias classes sociais. O pobre é meliante e culpado. O rico é suspeito.
21- Jornalista não é policial, não tem prerrogativa legal nem treinamento para atuar em negociações em casos de assaltos com reféns.
22- A Justiça não aceita como provas, escutas não autorizadas. Então, o jornalista não pode utilizar escutas não autorizadas.
23- Assessor de Imprensa não pode nem deve assumir erros e falhas do assessorado. Assessor não é porta-voz, quem tem de se explicar publicamente é o assessorado.
Um comentário:
Pois é... palestra sobre ética no jornalismo promovida pelo Sindjor com apoio da assessoria do GEA. Acho que as duas instâncias deveriam fazer profunda reflexão sobre esse tema. Senão é como dizer "faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".
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