29 de junho de 2008

Um presente para o jornalista

A distribuição de brindes promocionais a jornalistas é uma estratégia de muitas assessorias - principalmente das empresas e órgãos mais abastados - para difundir a marca do assessorado junto a este público formador de opinião. É a versão institucional do bonito ato de presentear a quem nos é proximo, que é legítima e bem-vinda quando feita em momentos oportunos, digo, em datas comemorativas da imprensa ou da instituição assessorada, e como parte de uma ação mais global de divulgação das atividades ou da missão do assessorado. Isso aí é feito às claras, algumas vezes até em forma de evento aberto ao público e de forma que o jornalista não sinta-se na "obrigação" de jogar confetes no produto em si (só porque o ganhou de mimo), mas sim dispor de mais informações e elementos que o leve a conhecer melhor a instituição assessorada.
O reprovável é o presentinho carregado de mensagens subliminares - muitas vezes nem tanto -, planejadas para laçar e amarrar o jornalista (há que se pensar que tipo de jornalista é esse) pelo sentimento da simpatia e da gratidão. Isso aí acontece muito com jornalista que vende sua consciência ao aceitar fazer parte da folha de pagamento de instituições públicas nem nunca aparecer para trabalhar, o assunto é tão delicado que sequer chega a ser discutido nos congressos dos jornalistas, mas é uma ferida que precisa ser tocada para chegarmos ao antídoto.
Alguns veículos se resguardam de situações onde seu repórter receba presentes e fique diante do dilema de receber ou recusar gentilmente. Lembro que o jornal Gazeta Mercantil, quando criou uma sucursal em Belém, e que nem existe mais, anexava ao contrato de trabalho do jornalista uma série de recomendações de comportamento na relação com as fontes, e uma delas limitava até uma certa quantia o valor do presente a ser recebido. Como presente também existe na forma de viagens e outras facilidades pra se produzir uma matéria, alguns jornais do Sul, Sudeste, DF, de algumas capitais nordestinas, de Belém e de Manaus, tomaram o saudável hábito de informar ao leitor quando se trata de reportagem facilitada pela fonte citada no texto.
Falo por experiência própria, de duas oportunidades em que estive em Fortaleza para fazer matéria de antecipação da micareta Fortal, e como em torno deste evento há toda uma estrutura profissional de divulgação dos atrativos turísticos da capital do Ceará, tivemos acessso gratuito a usufruir à vontade de vários espaços que dificilmente eu teria condições de pagar do próprio bolso, e muito mais dificilmente por parte do jornal onde eu trabalhava. Nesse caso, ficou claro e límpido para o leitor os nomes de todos os órgãos e empresas que possibilitaram as duas viagens e, conseqüentemente, a reportagem. Não digo que esta atitude do jornal é favor ou concessão, trata-se de uma coisa bem simples, de colocar em prática o que tanto se alardea nos slogans de que o direito e o interesse do leitor vem em primeiro lugar.

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