3 de julho de 2008

Porque "não qui-lo"

A frase acima bem que poderia ser adotada como resposta pelos pauteiros interpelados por assessores que só escrevem - ou informam - com o objetivo único de publicação. Trata-se de uma paródia da originalíssima frase atribuída ao ex-presidente Jânio Quadros (falecido), que respondeu "Fi-lo porque qui-lo" quando lhe perguntaram porque renunciou ao mandato com apenas 9 meses no cargo. Lembro de um jornalista de Belém, que dirigiu a então sucursal do jornal Gazeta Mercantil em Belém, que afirmava sem rodeios, quando um assessor ligava pra saber porque seu release ou sugestão não foram publicados: "Amigo, não saiu porque eu não quis". Só que era num tom tão mansinho que o dito amigo ficava sem reação, claro, primeiro pela surpresa da extrema sinceridade, embora desprovida de gentileza ou afago, e segundo porque,convenhamos, não é comum.

Então, se o assessor não empreender todo um esforço na fase de convencimento, para que a imprensa publique sua sugestão de pauta, de nada adianta ligar em tom de cobrança, porque o colega da redação não é seu empregado nem da empresa assessorada, porque o colega da redação deve ter liberdade suficiente para decidir, sob critério editorial jornalístico - pelo aproveitamenteo ou não do release, porque nem tudo que é enviado a jornalistas deve servir unicamente para ser publicado (às vezes um assunto não interessa ao veículo de determinado segmento, mas interessa ao jornalista para apurar seu conhecimento sobre a empresa assessorada), e porque há varios fatores a serem considerados na relação entre empresas interessadas em verem suas notícias divulgadas e os veículos, que como sabemos, são fortes instrumentos de poder político e econômico e não somente canais de informação e/ou entretenimento pura e simples.

Quando fazia assessoria do Festival de Ópera, em Belém, promovido pelo Governo do Estado, procurava agregar valor de notícia de interesse público a todas os releases, sem deixar, logicamente, de citar o secretário de Cultura, que envolvia-se diretamente na programação e outros tais do evento. Eis que, numa conversa amistosa, com o editor de cultura de um impresso, ele foi claro e límpido: "Tenho dificuldade para publicar o material do Festival, mesmo sendo de interesse dos nossos leitores, porque todo dia no noticiário político o meu patrão chama, através das matérias e notas, o seu patrão (no caso, a estrutura do Governo)de ladrão". Qual foi o consenso? Eliminar o nome do secretário de Cultura e assim nunca mais o leitor do dito jornal ficou privado das notícias do Festival. Olha só o que a sinceridade e a busca do compromisso com o leitor é capaz de fazer, quando nos expomos entre nós.

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