4 de janeiro de 2011

Secom no Governo Camilo

A nomeação da jornalista e professora Jacinta Carvalho para assumir a Secretaria de Comunicação do Estado do Amapá é mais um indicativo de que o recém-empossado governador do Amapá, Camilo Capiberibe (PSB), tem noção de que práticas de comunicação não significam apenas atividades midiáticas. Uma das características deste jovem político é a percepção de que o processo da comunicação é importante para uma sociedade participativa. Prova disso foi seu incentivo, enquanto deputado estadual, à mobilização de movimentos sociais para que a Conferência Estadual de Comunicação, em 2009, contasse com a voz dos interessados em geral, e não só dos técnicos desta área.

Ainda na fase da campanha eleitoral um grupo dedicou-se a elaborar um documento com os fundamentos de um modelo de Secom sintonizado com as diretrizes do Governo do PSB (e coligados) e o contexto da sociedade local. O passo seguinte, já com o novo governador diplomado, foi verificar os nomes aptos a gerir e supervisionar a operacionalização de produtos e serviços, sejam os complexos ou rotineiros. E assim chegou-se a Jacinta Carvalho, escolha coerente neste momento em que o novo Governo aposta na competência técnica, no planejamento e em procedimentos éticos de gestão e de relacionamentos para demover do senso comum a falácia de que a administração pública seria fadada à inoperância.

Para favorecer ainda mais meu otimismo na gestão da jornalista que assume a Secom, lembro sua afinidade com o grupo político que demonstra condições morais e técnicas para governar o Amapá com probidade. Outro aspecto favorável é que ciente de que a comunicação ampliou seu escopo de influência, Jacinta foi atuante em aplicar seus conhecimentos na execução do projeto Comunicação Popular, uma iniciativa do PSB voltada à capacitação de moradores de vários bairros de Macapá e Ilha de Santana em produção de textos, vídeos e outros instrumentos com potencial para ampliar as possibilidades de expressão para a conquista da cidadania.

Diante do reconhecimento da comunicação como insumo estratégico para dinamizar todas as atividades do Governo, o desafio agora – inovador - é investir na capacitação contínua dos dirigentes dos órgãos da administração direta e indireta, que constituem um dos públicos prioritários da comunicação institucional, para o entendimento da importância, do alcance e das vantagens da comunicação planejada. A palavra de ordem, neste caso, é adotar uma política de comunicação que defina procedimentos a serem observados por todos os órgãos de forma a tornar transparente a competência técnica de cada setor do Governo, seus objetivos, posicionamentos, e, principalmente, sua missão institucional. Entram em discussão o organograma da Secom, o regimento interno, as atribuições dos setores, a valorização da competência técnica desta área com a criação de cargos de assessoria em comunicação, a adequação do ambiente físico e a própria localização da Secom e o planejamento orçamentário-financeiro.

Tudo isso porque no dia-a-dia de uma gestão que pretenda incorporar o discurso e a prática da mudança anunciada pelo novo Governo, a comunicação planejada – com informações qualificadas - passa a ser realizada em todos os momentos, na relação entre o primeiro escalão e suas respectivas equipes, no contato com fornecedores, na interface com o Governo Federal, com as organizações não-governamentais e com os meios de comunicação. Nessa perspectiva, é que podem surgir procedimentos específicos para o relacionamento produtivo e profissional com a imprensa, considerando inclusive a quebra de paradigmas na relação comercial existente hoje com as empresas jornalísticas locais ao substituir integralmente a prática da “ajuda” (que, na maioria dos casos, têm o objetivo de interferir diretamente na linha editorial) por uma relação impessoal com os veículos, tratando-os como um dos públicos e não como canal de divulgação a serviço de um discurso unilateral.

Embora seja um assunto tabu, o fato é quase todos os dias a imprensa amapaense é classificada de jabazeira nas caixas de comentários dos blogs mais conceituados de Macapá. Essa percepção é apenas a ponta do iceberg. Na distribuição de verba pública para publicidade, há que se entender que existe a publicidade legal, a propaganda, os patrocínios, os anúncios em veículos de comunicação. E isso tudo é legítimo, não deveria jamais significar “ajuda” aos veículos e nem ser utilizado para troca de favores escusos e impublicáveis, achincalhes, chantagens, e, por consequencia, a desmoralização das atividades publicitária e jornalística.

Entenda-se por jabazeira, nesse caso, a prática de favorecer integralmente o noticiário ao discurso do Governo, mediante a “ajuda” financeira viabilizada por contratos geridos pela Secom, o que na prática anula qualquer possibilidade para controvérsias e questionamentos durante as entrevistas e na edição dos noticiários (impressos, rádio e TVs), afetando em cheio a credibilidade e reputação dos veículos ao mesmo tempo em que desvaloriza e precariza continuamente a profissão de jornalista no Amapá.

É um fato que não passa despercebido pelo grupo de habitantes – embora ainda reduzido, mas qualificado do ponto de vista de influenciador de opiniões – que tornou-se usuário das redes e mídias virtuais, onde a interatividade instantânea e facilidade de operacionalizar faz de qualquer cidadão (com acesso à internet) um receptor bem mais ativo do que o baseado no modelo de comunicação de Aristóteles (emissor – mensagem – receptor), subvertendo a ordem da mensagem unilateral pela troca e influência recíproca de informações e opiniões.

Além de contribuir para reduzir – ou quem sabe, eliminar - a pecha de jabazeira, que vem caracterizando a imprensa do Amapá, por meio da profissionalização e transparência das relações da Secom com os veículos, será edificante também aplicar os princípios do jornalismo nos produtos da própria Secretaria, eliminando a personalização nos textos, por exemplo, e compreendendo que a Assessoria divulga e defende e a imprensa questiona (ou pelo menos, deveria). Ou seja, cada esfera cumprindo seu papel na perspectiva de valorizar a atividade de comunicação no Amapá.

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