8 de março de 2010

Quero ser Amélia

Não consegui descobrir o autor ou autora do texto abaixo, porém como faz o estilo desconcertante e fora do habituês de sempre, gostei logo de cara. Não que eu concorde plenamente e integralmente, mas claro que é uma forma bem humorada de desabafar a tripla jornada que deixaram de herança pra gente.

E mais do que nunca, viva a equidade de gênero! Se os homens (e mulheres) não sabem, o dia 15 de julho é o Dia do Homem por decisão da ONU há 10 anos. Então, se quiserem festejem também, meus senhores.

São 6h. Segunda-feira. O despertador canta de galo e eu não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede.

Estou tão acabada, não queria ter que ir para o trabalho hoje. Quero ficar em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando até. Se tivesse filhos, gastaria a manhã brincando com eles, se tivesse cachorro, passeando pelas redondezas.

Aquário? Olhando os peixinhos nadarem. Espaço? Fazendo alongamento. Leite condensado? Brigadeiro. Tudo menos sair da cama, engatar uma primeira e colocar o cérebro para funcionar.

Gostaria de saber quem foi a mentecapta, a matriz das feministas que teve a infeliz idéia de reivindicar direitos à mulher, e porquê ela fez isso conosco, que nascemos depois dela.

Estava tudo tão bom no tempo das minhas avós, elas passavam o dia a bordar, a trocar receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos de molhos e temperos, de remédios caseiros, lendo bons livros, decorando a casa, podando árvores, plantando flores, colhendo legumes das hortas, educando as crianças,...
A vida era um grande curso de artesanato, medicina alternativa e culinária. Aí vem uma fulaninha qualquer que não gostava de sutiã, tampouco de espartilho, e contamina várias outras rebeldes inconseqüentes com idéias mirabolantes sobre "vamos conquistar o nosso espaço". Que espaço, minha filha? Você já tinha a casa inteira, o bairro todo, o mundo aos seus pés. Detinha o domínio completo sobre os homens, eles dependiam de você para comer, vestir, e se exibir para os amigos..., que raio de direitos requerer?

Agora eles estão aí, todos confusos, não sabem mais que papéis desempenhar na sociedade, fugindo de nós como o diabo da cruz. Essa brincadeira de vocês acabou é nos enchendo de deveres, isso sim. E lançando muitas das mulheres de hoje no calabouço da solteirice aguda.

Antigamente, os casamentos duravam para sempre, tripla jornada era coisa do Bernard do vôlei - e olhe lá, porque naquela época não existia Bernard e, se duvidar, nem vôlei.

Por quê, me digam, por quê um sexo que tinha tudo do bom e do melhor, que só precisava ser frágil, foi se meter a competir com o "macharada"? Olha o tamanho do bíceps deles, e olha o tamanho do nosso. Tava na cara que isso não ia dar certo.
Não agüento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer escova, maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa vestir, que sapatos, acessórios, que perfume combina com o meu humor, nem de ter que sair correndo, passar o dia ereta na frente do computador, com o telefone no ouvido, resolvendo problemas, recebendo demandas urgente do chefe..ou pior, de uma chefe.

Somos fiscalizadas e cobradas por nós mesmas a estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, cheirosas, unhas feitas, sem falar no currículo impecável, recheado de especializações. Viramos supermulheres, continuamos a ganhar menos do que eles, ainda bem que não é o caso da empresa onde trabalho.

Não era muito melhor ter ficado fazendo tricô na cadeira de balanço? Chega!, eu quero que meu marido pague (todas ) as minhas contas, abra a porta para eu passar, puxe a cadeira para eu sentar, me mande flores com cartões cheios de poesia, faça serenatas na minha janela - ai, meu Deus, 7h, tenho que levantar!, - e tem mais, que chegue do trabalho, sente no sofá, coloque os pés para cima e diga: "meu bem, me traz uma xícara de chá, por favor?", descobri que nasci para servir. Vocês pensam que eu estou ironizando? Estou falando sério! Estou abdicando do meu posto de mulher moderna... Troco pelo de Amélia. Alguém se habilita?

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