19 de agosto de 2008

Maré da comunicação

O artigo abaixo foi produzido a partir de observações feitas no último Fórum de comunicação organizado pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República.

A maré da comunicação: assessoria em tempos de novas mídias

Por Gustavo Porpino / Jornalista da Embrapa Cerrados (Brasília)


Todas as áreas do conhecimento estão em transformação contínua, mas a comunicação, em particular, passa por mudanças mais rápidas. A tecnologia da informação (TI) exerce influência em todas as mídias. Das mais tradicionais, como o rádio e o jornal impresso, até as mídias sociais presentes na Internet. Blogs, YouTube, Orkut, comunidades virtuais e outras redes dentro da teia mundial que é a Internet são a ponta do iceberg, parte mais visível das transformações provocadas pelas novas mídias no oceano da comunicação.

Digo oceano, mas poderia chamar de mares bravios. Não bastam mais um bom timoneiro e vento a favor para transpor os desafios impostos pelo excesso de informações, segmentação cada vez maior do público e baixo índice de leitura da população brasileira, só para citar algumas características desta nova maré que está enchendo. E mais, é preciso saber interpretá-la para não correr riscos de naufrágio ou afogamento.

Fazer assessoria de comunicação com estas condições de mar e vento é bem diferente do modelo vigente há poucos anos. Mas, acreditem, ainda há quem não perceba as mudanças. Muitas exigências se impõem nas novas condições do oceano. Esqueçam, ou diminuam, os relises eletrônicos distribuídos em massa. Os filtros antispam estão aí para impedi-los de chegar a um porto qualquer. E, convenhamos, jornalista nenhum tem tempo para ler milhares de mensagens diárias.

Para o jornalista Mário Morona, um dos idealizadores do portal Globo.com e ex-diretor de jornalismo da TV Globo em Brasília, “jornalista quer notícia, não dá a menor bola para relises eletrônicos”. Aí, surge outra exigência. É preciso saber discernir o que é notícia. Nem toda informação de valor interno para uma empresa é uma notícia de interesse para o público externo. Em organizações públicas, principalmente, ainda é comum gerentes de comunicação com formações relacionadas à área fim da Empresa, mas com dificuldades em navegar pelos mares da comunicação.

A falta de habilidade cria situações constrangedoras. É como ter que desatar um nó nas hastes da vela, mesmo com o vento soprando forte. A questão não é ausência de boas intenções ou competência, mas falta senso de julgamento para saber que nem todas as ações governamentais são notícia, e por conseqüência, irão merecer destaque na mídia.

É preciso mais criatividade para sugerir pautas interessantes à imprensa e, ao mesmo tempo, utilizar as vantagens das novas mídias a favor da empresa. A presença na Internet, por exemplo, precisa fazer uso dos recursos que o meio permite. Páginas pouco atualizadas, mal redigidas e sem ferramentas para interação com o internauta não funcionam como meio de comunicação eficaz. “É muito raro encontrar algo aproveitável em sites governamentais. São registros sem apelo”, comenta Josias de Souza, colunista da Folha de São Paulo. Concordo e dou o braço a torcer. Josias, a exemplo da vasta maioria dos jornalistas de grandes veículos, não reproduz relises enviados à sua caixa postal, devidamente protegida contra spams.

Morona e Josias participaram do Fórum as pautas dos blogs e a comunicação pública, realizado em julho, em Brasília, uma iniciativa da Secretária de Comunicação da Presidência da República. Uma das constatações dos participantes é que a informação, mesmo na Internet, é cada vez mais audiovisual.

Segundo o Ibope/NetRatings (2007), o brasileiro gasta, em média, 22h25 minutos por mês na Internet. Nenhum outro povo, nem os sul-coreanos ou japoneses, passam tanto tempo conectados. Some-se a este elevado uso da Internet, o baixo índice de leitura de jornais e o hábito de ser usuário de mídias sociais como o Google, Orkut e YouTube, teremos um universo de consumidores sedentos em receber informações de forma pouco convencional.

“Na blogosfera, primeiro, é preciso conhecer o público, para depois produzir conteúdo com linguagem adequada. Jovens preferem comunicação por imagens e áudio. Textos longos não funcionam”, salienta Carlos Castilho, diretor do Observatório da Imprensa e professor de jornalismo Online do curso à distância da Universidade do Texas.

Produzir relises sobre assuntos corriqueiros e sem apelo noticioso é, literalmente, encher o saco dos jornalistas. E no dia em que mais precisarmos deles, não teremos a atenção merecida. O cuidado, vale, principalmente, para os órgãos públicos. Dirigentes públicos querem presença na mídia, seja por necessidade de manter o poder, por ego ou para gerar números de presença na mídia superiores a antecessores do cargo. Seja qual for o motivo, é preferível a qualidade à quantidade.

Sugestões de pauta bem pensadas, e enviadas com exclusividade para veículos com audiência, contribuem mais para construir uma imagem positiva da organização do que uma centena de reproduções de relises em sítios ou blogs de pouquíssimo índice de leitura. “Há muitos Blogs, mas se passarmos num filtro, poucos têm audiência”, destaca Josias de Souza, um dos blogueiros mais lidos do país.

Pesquisa da Ipsos (2007) apontou que o internauta brasileiro é o segundo maior usuário mundial de mídias sociais. Google, Orkut, YouTube, Blogs... Segundo o Ibope/NetRatings (2007), o brasileiro gasta, em média, 22h25 minutos por mês na internet. Nenhum outro povo, nem os sul-coreanos ou japoneses, passam tanto tempo na net. Pergunto, e por que danado a comunicação pública tem que ser tão tradicional? Por que não usar mais as novas mídias? Há quem tente, como o colega Marcos Esteves, jornalista da Embrapa Hortaliças. Mas nem sempre a boa intenção recebe o crivo da burocracia oficial.

Castilho e Morona acreditam que os sítios governamentais são pouco atraentes para o público jovem. Para usar um adjetivo que os gestores adoram, diria que é um erro estratégico. Fala-se muito em estratégia, mas, no poder público, há uma nítida dificuldade em acompanhar os avanços tecnológicos. Sem TI, não há nada estratégico, nem a mais criativa das filosofias presentes em planos, planejamentos, cenários...

E Morona ainda deu um último recado. “Primeiro façam boas páginas na Internet. A Embrapa precisa ter um ótimo site. Tem que ter vídeos, e polêmica. É preciso, e possível, fazer bons sites de Governo”. As velas estão alçadas, e ao que tudo indica, o vento sopra a favor. Temos a simpatia da imprensa e uma imagem de excelência construída ao longo dos anos. Não somos almirantes, é bem verdade, mas nenhuma jangada enfrenta o mar sem o esforço dos que conhecem os segredos do oceano.

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