30 de julho de 2008

Pela discussão sem violência

Para além dos manuais, oficinas e seminários, existem os acontecimentos do dia-a-dia que também ensinam sobre atitudes em assessoria de imprensa. No passeio de hoje pelos blogs, minha primeira leitura foi o relato da jornalista da TV Amapá (Globo, canal 6 em Macapá), publicado no Repiquete e que republico abaixo. Logicamente me solidarizo com a equipe, como jornalista e como cidadã que repudia violência de qualquer espécie. Refiro-me unicamente ao que a decente jornalista descreveu. Há algumas lacunas, por exemplo quem é Carlos Araújo, qual a função dele na Polícia Técnica? Ele foi grosso e violento ao ser abordado, ou ele interferiu (estupidamente) quando a equipe tentava fazer seu trabalho abordando outra pessoa?
Uma frase da jornalista, em especial, chama a atenção, mesmo que muito superficialmente, para o papel das assessorias (estaria aí a chave da charada da função do Carlos Araújo?): "Será que no entendimento das "assessorias" a imprensa amapaense só serve para cobrir encontros, discursos e assinaturas de convênios em gabinetes?!" Uma perpicaz observação sobre o comportamento dos jornalistas diante da enxurrada de releases, que puxa várias outras questões como o fato de que o comportamento do jornalista diante de uma pauta, de uma fonte, sempre dependerá (e muito) da linha política do dono do veículo e não dos ditames do jornalismo e também o fato de que muitos jornalistas consideram sim a coisa mais normal do mundo 'cobrir' assinatura de convênios para projetos que quase sempre nem são executados e mesmo assim quase ninguém parece se importar de verdade com isso, inclusive nós jornalistas.
Outra reflexão é que assessor deveria ter vergonha (muitos não têm) de ver a imprensa apenas como canal de divulgação de via única, e esquece ou não quer saber que a imprensa é uma instituição a serviço da sociedade (pelo menos deve ser né), portanto suas atribuições de coletar informação, reportar, editar, publicar, é uma demanda do estado democrátivo de direito, e por isso tem de ser atendida também nas situações problemáticas e negativas. Imprensa mal atendida é imprensa ruim, que erra sempre. Imprensa bem atendida é imprensa que erra ou não.

Vale a pena o relato da jornalista:
"Hoje pela manhã, eu - Soraia Carvalho e o cinegrafista Albenir Souza, nos dirigimos a Policia Técnica na tentativa de captar imagens das pessoas acusadas de tráfico de drogas presas pela Polícia Federal. Ao chegar no referido local, por volta das 10 da manhã, constatamos que tanto os agentes da PF quanto os da PC estavam com 7 flagrantes e já há bastante tempo a espera dos médicos sumidos que deveriam estar lá no plantão para fazerem os exames de corpo delito. Ao tentar colher informações e imagens, um funcionário identificado como Carlos Araújo, fazendo uso de grosserias, gritos de palavras de baixo calão e no abuso de autoridade - nos expulsou dali quase que nos trazendo pelas golas diante de todos. Não houve agressão física mas ficamos sem qualquer ação. Como nada podemos fazer no momento a não ser nos retirar humilhados, manifesto agora a nossa dificuldade de trabalhar em alguns órgãos públicos do estado principalmente quando se trata em mostrar o lado obscuro dos mesmos. No fim da manhã, a diretora da Policia Técnica Eliete Borges nos atendeu por telefone, foi comunicada do ocorrido e ela informou que não tinha conhecimento do caso. No entanto, esperamos que a reclamação seja bem mais que apenas ouvida. Será que no entendimento das "assessorias" a imprensa amapaense só serve para cobrir encontros, discursos e assinaturas de convênios em gabinetes?!"

5 comentários:

Anônimo disse...

Sempre visito este espaço para tentar aprender um pouco de comunicação corporativa, pois aqui tem muito blog de jornalistas e pouco de quem está no "outro lado do balcão", nas assessorias. Sobre o episódio em tela esperava uma abordagem com um contraponto de quem está atuando numa corporação, saindo um pouco dess discurso lugar-comum de "liberdade de expressão". O que irritou a repórter? Foi a negativa ou o modo? Não ficou muito claro. Será que do ponto de vista legal não há limites? Pode a entidade Polícia Técnica violar o direito de um cidadão ou cidadã de preservar sua imagem no momento de um exame técnico? É permitido à imprensa ter acesso a esse tipo de perícia? E se essa pessoa era o assessor de comunicação? Não cabe a ele a missão e o dever de preservar e zelar pela imagem da corporação onde ele trabalha? Seu compromisso não é primeiramente com o cidadão aquele que lhe paga o salário? Nos manuais o asessor deve facilitar, ser a ponte de ligação entre sua instituição e a imprensa. Mas será que nessa relação não é legítimo haver momentos de tensão. Cabe ao jornalista utilizar de todos os meios (até ilícitos) para conseguir sua matéria? Será que não cabe também ao assessor mediar com maior clareza possível os pontos conflitantes? E a repórter? Fica claro que há uma incompreesão do papel de jornalista quando se utiliza do expediente do "passar na cara" dos assessores (sim está claro que ela generalizou) que há outro tipo de tratamenteo quando o assunto é inauguração e etc...Ora! Um veículo de comunicação não vai cobrir um fato simplesmente porque está sendo "legal", ou "bacana" com uma instituição ou um assessor. A pauta tem que ter interesse. Não só do veículo. Mas da socidade. Tudo o que diz respeito à sociedade pode ser pauta, que pode ser reportagem, ou seja, notícia. E aí não interessa se é inauguração, convênio ou corrupção, roubo e prisão. É um erro (e grave!) um jornalista desdenhar de uma assessoria de comunicação. Numa redação, grande parte dos assuntos pautados nascem nas assessorias. Então porque generalizar? Houve um fato isolado na Polícia Técnica ou essa é uma prática constante nas assessorias? Se for é uma questão grave. Mesmo com todos esses pontos minha dúvida continua. É ou não legítimo um assessor zelar pela imagem de sua corporação?

Dulcivânia Freitas disse...

Obrigada pela visita, Milton.
Não houve uma abordagem como um contraponto ao relato da jornalista pq ela não menosprezou o trabalho das assessorias. O que ela atacou foi a atitude violenta de um funcionário e aproveitou para tocar num ponto (talvez até sem pretensão, não sei) que incomoda mas é verdade, porque muitas assessorias só acham que o jornalismo é bom e bacana quando agrada ao assessorado. Assim como também incomoda mas é verdade que muitos colegas de redação só acham que a assessoria é eficiente quando recebem o serviço deles praticamente pronto, inclusive o texto que é levado à audiência.
Enfim, acho que não estamos em lado opostos. Jornalistas de redação e jornalistas de assessoria têm inimigos em comum: a falta de ética, a falta de competência técnica e a falta de consciência de classe.

Anônimo disse...

É uma canalhice servidores públicos impedirem a imprensa de informar a população, bem como é uma semvergonice a TV Amapá não repercutir a matérial do Jornal Nacional que divulgou o resultado da pesquisa da FIRJAN onde o Amapá é o último colocado no índice de desenvolvimento. Nos dois casos o povo tem o direito a ter a informação!

Luciano Silva

Histórias do Voluntariado da Amazônia disse...

Enquanto isso no "páis das maravilhas..."

Ficou muito triste em morar em um lugar onde as prioridades são outras que não a garantia do direito a vida,da integridade física e moral de nossa população.

Concordo que não é bom ser humilhado, ou coisa que o valha, durante nosso trabalho ou em qualquer outro momento. Porém, vejo num universo maior que a violência sofrida pela jornalista Soraia é apenas uma das milhares que mulheres sofrem dioturnamente aqui em nossa terra, só pra se ter uma idéia 10.000 (dez mil) pessoas foram vítimas de queimaduras desde 1980, 300 (trezentas)pessoas foram escalpeladas por eixo de motor de barco em nossa região (sendo este o único lugar que isso acontece com tanta regularidade) e contabilizamos até agora 300 (trezentas) pessoas vítimas de lábio leoprino.Pasmem! a grande maioria são mulheres, que por estarem no elo mais fraco da corrente social, e por ser maioria da população, sofrem em sua pele a mais vergonhosa de todas as violências: O DESCASO.
o "BOM SELVAGEM" que praticou a violência contra Soraia que, independente de ser jornalista é gente de bem e merece todo nosso respeito como mulher e ser humano, deve ser penalizado nos limites da Lei (será que cabe asedio moral ou dano moral?).

É meus caros "blogueiros" vivemos um estado de faz de conta .... ou seria de direito?

Em tempo...

Core "a boca pequena" que temos 90 (noventa) motoristas lá onde foi praticada a violência contra nossa Soraia. Ora veja você... só tem 5 carros para esse batalhão de donos de carteiras autorizadas pelo DETRAN-AP.

PRa você Soraia não se rebaixe ao nível desse "Bom Selvagem", pois, é só isso que ele é.

www.voluntariadoamazonia.rg3.net
91 18 07 18
internetbel@hotmail.com

Dulcivânia Freitas disse...

Cláudio (Voluntários da Amazônia), é uma honra tê-lo como leitor deste blog, e seu comentário aqui, mesmo esta poster estando ausente desde 30/7 (ai, que vergonha), é um ótimo tapa de luvas pra mostrar que preciso mesmo postar pelo menos uma vez todos os dias. Você, como sempre, sempre ensinando com bom exemplo.
Quanto ao seu comentário, fiquei a pensar no quanto é violenta a situação das mulheres que encontramos, cedinho de manhã, caminhando com seus babys no colo, em direção aos postos de saúde pública em busca de uma aspirina que raramente encontram.
abs!