25 de junho de 2008

Prêmio quente

Dias atrás falei do Prêmio Embrapa de Reportagem, que este ano tem como tema "Os desafios da pesquisa agropecuária frente às mudanças climáticas". As inscrições vão até 1º de agosto deste ano e o prêmio total é de R$ 80 mil, divididos para as matérias de impresso, rádio, TV e internet. As duas novidades são a proibição para inscrição de jornalistas vinculados à revista Globo Rural e a abertura para participação de correspondentes estrangeiros. No primeiro caso, a restrição acontece porque a Embrapa fez uma parceria com a revista, relativa ao Prêmio Frederico de Menezes Veiga, voltado a pesquisadores.

Mas falando especificamente do tema do Prêmio (clique aqui), percebi que não teríamos pautas locais devido à falta de pesquisas focadas no assunto. No entanto, como tem importância para a vida de todos - mesmo que nem todos saibam ou queiram saber - aproveitei no release sobre o Prêmio, trechos de uma entrevista do pesquisador Marcelino Guedes ao jornalista Paulo Ronaldo, do jornal A Gazeta do Amapá, publicada em 2007, onde ele falou sobre o assunto, que por sinal é tema recorrente de suas palestras em universidades e eventos de popularização da ciência. Abaixo, a entrevista:

Paulo Ronaldo - De que forma do aquecimento global atinge o Amapá?
Marcelino Guedes - Antes de analisar algum aspecto local das mudanças climáticas, é preciso ter ciência de que a questão deve ser tratada de maneira global. A atmosfera é um contínuo, portanto, para o clima não existem cercas. No caso da Amazônia Oriental, a maioria das previsões apontam para aumentos na temperatura, diminuição na precipitação, levando a estações secas mais
prolongadas e severas. Além do efeito direto sobre a população, essas mudanças podem causar aumento na inflamabilidade da floresta (maior vulnerabilidade ao fogo), mudanças na sua composição de espécies e na fitofisionomia, que é a possibilidade de mudança na ‘cara’ da floresta, por exemplo, a floresta virando um cerrado.

PR - Existe um estudo específico sobre o aquecimento global no Amapá. Há resultados, quais são?
MG - Não. No momento, as instituições científicas locais estão buscando as parcerias e a criação das condições de infra-estrutura para desenvolver ações de pesquisa nessa linha. Existem alguns projetos isolados cujas informações podem ser aproveitadas para estudos sobre o tema, mas nenhum projeto com o foco e a dimensão necessários para estudos sobre as
mudanças climáticas globais.

PR - O aquecimento é irreversível ou o homem pode fazer algo para estabilizar ou mesmo reverter?
MG - Não existe certeza absoluta sobre essas mudanças. Todos os estudos são realizados utilizando modelagem de cenários. No entanto, o fato que deve ser considerado é que todos os cenários são pessimistas, alguns mais, outros menos, mas todos pessimistas. Os cenários menos pessimistas são
aqueles onde a humanidade trabalha em níveis ótimos de redução das emissões de gases causadores do efeito estufa e em níveis ótimos de retirada desses gases da atmosfera através de mecanismos de fixação na atmosfera terrestre. Essa é a forma com que o homem pode contribuir. Diminuir as emissões, principalmente, através da redução do uso de combustíveis fósseis e diminuição das queimadas, e aumentar a fixação de
carbono através de reflorestamentos e da promoção do seqüestro no solo e
nos oceanos.

PR - O degelo no Ártico pode elevar o nível dos rios e até mesmo atingir o rio Amazonas? MG - Sim. O degelo das calotas polares, tanto da parte visível, quanto da parte submersa, assim como a expansão térmica da água dos oceanos devido ao aumento da temperatura, podem elevar o nível dos oceanos e alterar o regime das marés, influenciando a região das várzeas no baixo Amazonas que estão sob influência dessas marés. Além disso, pode aumentar também o degelo nas cordilheiras dos Andes, alterando o regime das águas no alto Amazonas, cujo período de cheias depende parcialmente das águas que vem dos Andes.

PR - A tendência é de que a temperatura no mundo (e no Amapá) fique mais quente nas próximas décadas? MG- As previsões apontam para aumentos na temperatura média que podem variar entre 2 e 6 graus. Existem também previsões de aumento no número e freqüência de eventos extremos (furacões, tornados, tempestades). Apesar de não haver certeza sobre essas mudanças, cada vez mais cientistas e governos do mundo inteiro se debruçam sobre a questão, aumentando a consciência de que o problema é sério e que não é fruto de alarmismo.

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